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Reflexão Sobre Performance e Aprendizagem

  Foto: Pablo Charles Shaul - Itabuna - Bahia na Escola de Musica e Estúdio Musical # Violão Corda Aço

Reflexão sobre performance e aprendizagem

1.4 Reflexão sobre performance e aprendizagem

A Música é uma área do conhecimento que tem muita proximidade com o ser humano, independente de ser profissional, amador ou leigo. É comum que pessoas gostem, conheçam e deixem-se levar pela apreciação musical. Ela faz parte de nossa história e, eventualmente, algumas pessoas querem estabelecer uma relação mais íntima com essa Arte, praticando algum instrumento ou cantando.
No decorrer de sua aprendizagem, o estudante entra em contato com diversas disciplinas musicais que compõe um complexo de elementos teóricos e técnicos. A dificuldade da disciplina exige uma racionalização e dedicação diária, no decorrer de anos de estudos. Mas o estudante deve preservar aquela relação mais empírica e emocional, enquanto desenvolve sua técnica e seus conhecimentos.
De acordo com Daniel Baremboim, esse equilíbrio entre razão e emoção (disciplina e liberdade) está constantemente presente na performance musical. Nosso ponto de vista é que o intérprete, ao tocar um instrumento, lida com um emaranhado de elementos interdependentes de forma síncrona e com determinada fluência no tempo/espaço. Em outras palavras, uma música, mesmo que simples, apresenta simultaneamente um emaranhado de aspectos musicais e técnicos, como:
    • Aspectos musicais: timbres, intensidades articulação, fraseado, respiração, ritmos, agógica, melodia, expressividade, harmonias, polifonias etc.
    • Aspectos técnicos: postura, ação das articulações, independência da musculatura, relaxamento, audição, fôrma das unhas, disposição dos dedos etc.
São tantos elementos simultâneos a serem assimilados que não há como o aprendizado acontecer rapidamente. Não há como desenvolver tantas habilidades sem uma dedicação rotineira, no decorrer de anos de prática. Somente assim o sujeito poderá estar preparado e com os reflexos automatizados, que haja confluência entre todos os aspectos musicais e técnicos necessários.
Cada seção de estudo, cada aula, cada música pode ter um foco diferente, em que haja uma complementação entre os diversos conhecimentos e habilidades necessários. Progressivamente, o aprendiz se torna autossuficiente na percepção dos elementos musicais e na tomada de decisões sobre a qualidade dos seus movimentos corporais, de acordo com seu próprio imaginário acústico e cinético. Importante destacar que uma rotina de prática de estudos do instrumento estruturará e sedimentará um dos diversos modos possíveis de fazer música no decorrer do tempo. Logo, tocar com um postura, sonoridade e digitação adequadas acarretará em relações positivas com o instrumento. Enquanto, tocar com uma postura, sonoridade e digitação inadequadas, acarretará em relações negativas,  mais conhecidas como vícios.
Esse é o motivo pelo qual necessitamos da maior atenção possível durante a assimilação de cada etapa. Mesmo para um profissional, a leitura de uma nova peça passa por uma série de tomadas de decisões sobre sonoridade e técnica que, caso sejam realizadas sem controle, a assimilação ocorrerá deficitariamente. Consolidando, portanto, um hábito vicioso e prejudicial para o equilíbrio da prática instrumental.
Em outras palavras, cada trecho musical é uma súmula de pequenos elementos musicais e técnicos a partir dos quais o intérprete obterá determinado resultado. Desde o princípio, tomar consciência e automatizar esse complexo de acontecimentos - formado pela concomitância de diferentes elementos simples - trará uma abordagem saudável e musicalmente prazerosa ao intérprete.
Mesmo que todos esses elementos sejam síncronos, há uma lógica clara em todos os métodos. Edward Kreitman (1998) nos indica diretrizes sobre as quais podemos balizar a prática instrumental. Partimos do princípio que uma boa postura é condição base para uma boa sonoridade. A partir da sonoridade, podemos incluir aspectos da mão esquerda, organizando seus movimentos com a finalidade de obter uma melhor digitação.
A partir desta lógica, constituímos um processo lógico e síncrono para a realização de elementos de ordem musical. Reiteramos que são esses elementosmusicais que regem as tomadas de decisão sobre postura, sonoridade e digitação. Fechamos, portanto, o ciclo de ações e tomadas de decisão de um instrumentista.
KREITMAN, E. Teaching from balance point – A guide for Suzuki parents, teachers and students. Western Springs, 1998