Sabará viu pela primeira vez uma bateria sendo tocada em Realengo, no Rio de Janeiro. O baterista era o habilidoso percussionista Djalma. Gostou. Mais tarde viu em Ilhéus o percussionista Carlito tocando bateria. Gostou ainda mais. Cheio de ritmos, sentimentos e sonhos tocou pela primeira vez uma bateria aos dezesseis anos de idade quando então integrou o grupo musical que se apresentava na boate Okay Night Club, de seu Maron, em Ilhéus. O grupo era formado com o professor Nivaldo no trompete, Florisvaldo Gouveia no piano, Francisco Augusto no sax e Antenor era a voz. Tempos depois, em Itabuna, participou do conjunto Os Diamantes, da Rádio Difusora Sul da Bahia, nos anos 1950 e 1960. O conjunto era integrado por Mimidi na guitarra, João Santos como baixista e Élson no sax.
Para quem não sabe, Sabará fez curso de aperfeiçoamento de bateria com os professores Jorge Sacramento e Jorge Startery Sampaio, da Universidade Federal da Bahia. Aperfeiçoou-se em ritmos brasileiros com o professor Martinelli Filho, da USP, e participou do curso de iniciação musical ministrado pelo maestro Florisvaldo Santos, da Filarmônica de Ilhéus. De aluno talentoso passou a professor competente de música, dando aulas de bateria em instituições sociais e culturais. Na Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, Escola Beethoven, Sítio do Menor Trabalhador, bem como aos integrantes do Grupo Musical Cacau com Leite e Mel de Cacau.
Por sua atuação profissional expressiva, como baterista e professor musical em terras grapiúnas, Sabará recebeu, entre outros, o Troféu Mandacaru de Ouro, Troféu Jorge Amado da Fundação Cultural de Ilhéus, Troféu Jupará da Rádio Morena FM e Troféu Terravista. Participou como jurado em dezenas de festivais de música. Como baterista de conjuntos musicais, é bom saber que integrou o Grupo Encontros, Grupo Novos e Usados Jazz Band e Grupo Bahia 4, citando aqui apenas alguns.
Acompanhou trinta e dois artistas de expressão nacional, de 1960 a 2001, como Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Caubi Peixoto, Anísio Silva, Gregório Barrios, Elen de Lima, Booker Pitman, Eliana Pitman, Wanderley Cardoso, Miltinho, Trio Nagô, Nelson Ned, Tito Madi e Wando. No plano regional, para a nossa sorte, é difícil um artista de expressão em nosso cancioneiro não ter sido acompanhado do ritmo que Sabará consegue extrair quando toca bateria.
Esse cidadão negro, de jeito amigo, sincero e gestos generosos, que pensa e sente o mundo através do som, com uma impressão digital como percussionista tão dele, possui uma habilidade incrível para espalhar e reunir diamantes em cima de uma membrana esticada quando toca bateria. Com ligeireza nas mãos, firmeza nos punhos e trepidação nas veias, se a música pede alegria. Mas se for para embalar a tristeza, sabe fazer como poucos com que a caixa repercuta o abraço afetivo da noite, em carícia de lenço. Entre lamentos que deslizam e fluem da alma, dizendo segredos.
[Por Cyro de Mattos]